terça-feira, 20 de maio de 2008

CRÉU EM NÓS

Foram-se os tempos em que para fazer sucesso na música brasileira bastava combinar talento com uma boa dose de oportunidade.
O Brasil, que viu aflorar fenômenos conhecidos mundialmente como Tom Jobim, Maysa, Chico Buarque e Maria Bethânia, também foi palco dos Festivais de Música na tevê, a partir dos anos 60 e de grandes encontros musicais durante a Era de Ouro do rádio.
Há algumas décadas Rita Lee questionava em uma de suas canções "Ai, ai meu Deus, o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?", referindo-se à má qualidade dos produtos musicais fabricados pelas gravadoras. O que dizer então da febre "musical" que impesta as emissoras de rádio e os programas de tevê nos dias de hoje? Basta o ouvinte ou o telespectador mais desavisado tentar sintonizar alguns desses canais e ... "Créu!" Já era. Em meio a uma propaganda e outra "Créu", depois do comercial novamente é "Créu" e "Créu".
De "Boladona" a "Bonde do Tigrão", de "Festa do Apê" a "Dança da minhoca" , essas pragas ensurdecedoras passam devastando, sobretudo, porque confirmam o interesse da mídia e das gravadoras pelos produtos descartáveis, que só servem para vender, garantir audiência e faturamento dos anunciantes. Esses "mantras" impõem-se muito mais pelo fator inusitado, pelo grotesco, pelo ridículo que pela identificação de quem consome com o tal produto. Por serem momentâneos duram o tempo da passagem de um eclipse. Não é à toa que são consumidos com a voracidade de um faminto que esbarra com uma fruta suculenta( permitam-me o trocadilho com a "Mulher Melancia") .
É o que ocorre nas festas "Trashs" (lixo, em inglês), onde a diversão consiste exatamente em debochar da má qualidade dos produtos consumidos nos anos 80, como Gretchen, Sidney Magal, Paquitas e Beto Barbosa. Rimos, na verdade, porque recordamos de tudo que nos foi empurrado como objeto de consumo e também como forma de confirmar nosso distanciamento com a 'coisa' em questão. Ninguém iria associar a lixo as músicas que lembram os bons encontros, os jantares românticos ou as idas ao cinema.

Bem, como febre passa... logo logo inventam a sucessora do Créu. Até lá você tem duas opções:
Conformar-se em saber que temos uma rica herança cultural produzida pelos bons artistas até os dias de hoje ou desesperar-se e descer até o chão na última velocidade do Créu Créu Créu Créu Créu...