quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Espelho, espelho meu"

Não é de hoje que a beleza é pauta de discussão em várias sociedades. Desde a Grécia Antiga o culto às formas físicas sempre apareceu como característica do ser humano de estetizar as coisas a sua volta. Escultura, pintura, música, teatro e tantas outras manifestações artísticas desenvolveram-se sob o prisma do "embelezamento".
Vale lembrar que o conceito de beleza passou por vários graus de modificação no curso da história. Por exemplo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci atendia à idéia de beleza feminina da época: formas rechonchudas, muitos trajes, preenchimento de espaço.
Não muito longe, lembramos do saudoso Vinicius que já apregoava: "As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Dia desses, o excêntrico Clodovil em mais uma de suas confusões atacava a deputada petista Cida Diogo a partir do argumento que a parlamentar é "feia". O que dizer então desse padrão de beleza imposto aos meros mortais na sociedade contemporânea?
Nos dias de hoje esse 'belo' se aproxima mais da capacidade de mutação dos homens e mulheres diante de imposições de mercado. Não se destaca a capacidade do indivíduo de externar sua beleza, reconhecer-se enquanto belo e sim, alterar-se constantemente em busca de uma beleza inalcançável.
As pessoas estão cada vez mais escravizadas pelos padrões de beleza e de consumo, que instituem rédeas de adestramento nos hábitos e na aquisição pelos meros mortais. Os inibidores de apetite, os anabolizantes, a implantação de silicone e de botox tornaram-se verdadeiros passaportes para a felicidade.
Em vez de as pessoas estarem satisfeitas com a imagem perante o espelho, esse modelo de beleza atual tem levado as pessoas à depressão, à aflição e a tantos outros conflitos existenciais. Por serem temporários, esses padrões reiventam-se o tempo todo, originando cada vez mais pessoas "feias" para os padrões impostos.
As academias e as clínicas de estética tornaram-se verdadeiros templos de busca desesperada pelo corpo perfeito. Ao invés de um aliado, o temível espelho torna-se o principal vilão que denuncia as imperfeições de um corpo fora de regras do jogo do consumo. O espelho persegue, julga e, como castigo, pune suas cobaias com o ciclo da exaustão da busca do inatingível.

12 comentários:

Prof. Hugo! disse...

Concordo plenamente, Caio. E em certos pontos do Brasil essa febre é mais explícita. Passear no calçadão de Ipanema no início do ano quase me fez entrar em choque. Um verdadeiro culto ao corpo aquilo é.

=)

Gostei muito do texto, li rapidinho. Deve ser consequência de como tu escrever, você escreve bem que só, sabe disso.

Unknown disse...

Cainho, você levantou uma questão muito interessante com seu texto, expondo os padroes de beleza de antigamente e comparando com os da atualidade, um texto delicioso de ler, você está de parabens estou ansiosa para ler mais viu! nao pare!!!!

=D
aaadoooooooooooooooro!

Onilma Freire dos Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Onilma Freire dos Santos disse...

Puxa! Quanta intimidade com as palavras! Parabéns pelo texto.

No tocante ao tema, você realmente disse tudo, estou completamente de acordo. Os padrões de beleza visam atender a um mercado capitalista. Se todos tivessem essa visão crítica que você tem, pensariam um pouco antes de render-se a esse "animal" que é o mercado estético capitalista, no Brasil e no mundo. Obviamente que a beleza externa também tem importância na vida das pessoas, não se deve negligenciar-se, o problema é como se faz e o que se faz. A saúde deve estar acima de tudo, e falo em saúde física, psicológica, espiritual. Enfim, o importante é estar bem e nos aceitarmos sem neura, sem preocupações, sem esperar que a sociedade nos aceite. O resto? A gente conquista ou sai no espirro! kkkk
Beijos amore!!!

Anônimo disse...

"A parte mais sexy de uma pessoa � seu c�rebro"

jah dizia a s�bia Geri Halliwell

Unknown disse...

Aí a gente se pergunta: por que as pessoas querem parecer sempre mais e mais bonitas, mais amadas, mais desejadas, mais felizes, mais populares? O sistema se aproveita das carências afetivas dos indivíduos para existir. Aliás, essa é uma prerrogativa que mantém as engrenagens da máquina capitalista em funcionamento. Faz do produto a ser consumido, no caso a "beleza industrializada", um consolo a essas lacunas afetivas. Por meio das mídias propaga uma felicidade ideal que, como você muito bem disse, é inatingível. Parabéns, Caio.

Beijooooos. :)

Polly Pereira disse...

Os padrões de beleza vivem mudando mesmo. E ainda existe quem corra pra se adaptar a ele. Ah...sei lá. Só sei que quero por silicone!
oaihaohaioahioah
;D
Beijos amor

Deborah disse...

Como já disseram: " A blz está nos olhos d quem vê..."
O texto está maravilhoso. Ele flui mt bem! Parabéns, meu jornalista predileto! Bjoooss

Unknown disse...

Em épocas de rigor estético, esquece-se a beleza de um bom livro, de um poema, de uma crônica... Da arte, do indestrutível.
Parabéns, Caio. Belíssimo texto.
Márcia Matos

Unknown disse...

Acho que as pessoas devem se preocupar com a beleza física, mas de uma forma saudável, não exagerada. Simples atitudes podem melhorar sua aparência. Se no passado as pessoas não se preocupavam com a alimentação, hoje em dia as pessoas buscam comer alimentos mais nutritivos...

é isso ai....comer pouco..semprree

Unknown disse...

realmente em nossa sociedade as pessoas então escravisadas pelo padrão de beleza que e imposto pela moda das grandes empresa!!

Unknown disse...

Meu amigo... que posso dizer??? Parabéns pelo blog e mais ainda pelo texto. Infelizmente vivemos a ditadura da forma. No entando, cabe a cada um de nós a capacidade de julgar e selecionar os 'valores' verdadeiramente importantes para nossa vida.

Xero p tu.