quarta-feira, 29 de outubro de 2008

AMORES, APARÊNCIAS E GARANTIAS

Outro dia uma amiga lamentava o quanto é difícil, nos dias de hoje, encontrar alguém que “valha a pena”. De uma hora para outra, o namorado a largou – como se larga uma peça de saldão da C&A no meio da loja. E o pior é que a coitada realmente estava com os quatro pneus ‘arriados’ pelo cara. O filho da mãe – expressão usada por ela para se referir ao seu ex affair- chegou numa quinta-feira à noite e deu um “GAME OVER” na relação. Até aí tudo bem. Afinal, ela ainda não tinha descoberto que seu boyfriend já se engraçava por outro rabo de saia há séculos. O que mais a angustiava, digamos assim, foi ele ter acabado o namoro com apenas meia dúzia de frases do tipo “não dá mais certo”, “precisamos dar um tempo” e “eu vejo você como amiga”.
Depois disso, ela passou a acreditar que o problema era com ela. Chegou a fazer uma listinha com as possíveis razões que teriam levado o carinha a lhe dar o pé na bunda. Até conseguir superar a dor de cotovelo, e detoná-lo para meio mundo, excluí-lo do Orkut e dar fim aos presentes que de alguma forma lembrava o ‘falecido’, a mulher chegou a vivenciar uma CRISE interminável- algo mais profundo que a atual americana.
Mas, voltando à ocasião quando minha amiga externava seu drama afetivo/conjugal – coisa pouca perto dos mirabolantes casos do programa de Márcia- , um questionamento dela me deixou com os neurônios em pé. Ela divagava ... sobre uma eventual hipótese de “não se enganar com a pessoa amada”. Ihh.. sei, sei, sei. Entre uma Antarctica e outra, discutíamos sobre decepções, traições, frustrações e mais alguns “ões” da traumática fase pós-namoro.
Encontrar alguém que seja, de fato, o que demonstra ser é o sonho de consumo de quase todo mundo. E muitas vezes, a atividade diária de perceber o outro- aliada a uma boa dose de intuição- permite identificar se a criatura em questão passa no teste de qualidade, ou se está imprópria para uma relação a dois.
As decepções são inevitáveis quando você começa a notar os primeiros deslizes, as primeiras contradições e incoerências entre o que a pessoa diz e o que a pessoa faz. Embora, quase sempre, a gente continua fingindo que não está vendo nada. Jo-Ellan Dimitrius, autora do livro ‘Decifrar Pessoas’, chama isso de “dissonância cognitiva”- é fechar os olhos e a mente para não enxergar os sinais que passam bem ali na nossa frente. Mas, como diz o ditado “O amor é cego”. Ou seria “O amor cega”?!
Seria mais fácil se os assuntos referentes ao coração nos dessem algum tipo de garantia contra sofrimento. Algo como... SEGURO, sabe?! Não entendeu? Tudo bem. Para evitar que uma das partes se magoasse tanto, os relacionamentos funcionariam mais ou menos como as propostas de algumas publicidades. Já pensou? Conheça fulana, e se em três meses notar que a criatura não ‘presta’, você terá sua auto-estima elevada de volta. Funcionaria melhor que o iogurte Activia! Ou, por exemplo, como o anúncio do Bompreço: se você encontrar proposta melhor na concorrência ... nós devolveremos o tempo que você perdeu.
E, se tudo passa... o efeito do álcool também. ENFIM! Vamos à luta. Ajude-nos, Santo Antônio.

domingo, 14 de setembro de 2008

PRÓXIMA PARADA

Nas décadas de oitenta e noventa havia quem acredistasse que quando chegasse o ano dois mil estaríamos viajando em naves espaciais, mais ou menos como os Jetsons. Muitas das idéias que povoaram meu imaginário de criança foram descartadas depois de constatar que não aconteceu nada do que as pessoas me diziam sobre o futuro. E que, depois da entrada no novo século, continuou existindo o CDU- VÁRZEA para nos transportar em nosso vai-e-vem diário. Por falar nisso, viajar nos ônibus da CRT é mais que viagem, é a apreciação de um verdadeiro ‘talk show’ ao vivo. Sugiro a quem busca diversão a preço popular subir no coletivo, de preferência no Cais de Santa Rita, e só descer no terminal da Várzea. Você desfrutará de uma sensação democrática, uma experiência multicultural, como a cidade do Recife. Do vendedor de pipocas que se lança para dentro do ônibus oferecendo o ‘passatempo da viagem’ (nas opções doce ou salgada) ao menino que pede para ajudar sua família desempregada,afinal, 'é melhor estar pedindo que roubando, pessoal.’ Sem esquecer das miudezas do grupo Terapia do riso, em versões que vão de cartões temáticos a adesivos do Bob Esponja. E por apenas UM REAL! Ou... UM VALE A. E tudo ao som da Rádio Recife. Dá-lhe Teca Cristina e sua Paradinha de 'sucessos'.
São inúmeros os fenômenos que podem acontecer no interior dos coletivos. Algo digno de um estudo sobre comportamento humano. Tem dúvida? É só perguntar a quem já engatou uma paquera nas últimas cadeiras do busão. É aquela velha história: ônibus vaizo, alguém interessante e... uma possibilidade no ar. Ou melhor, na Terra. Dia desses uma amiga relatou sobre um ‘deus grego’ que ela conhecera dentro do famoso BARBALHO- DETRAN. Depois de se entreolharem por um bom tempo, trocaram telefone e, acabaram se conhecendo melhor. Final da história? Seichelles num dia, Fidji no outro. Isso me lembra o filme dos anos setenta ‘A Dama do Lotação’. A protagonista Solange, interpretada por Sônia Braga, vagava pelos coletivos da cidade em busca de aventuras com todos os homens que ela pudesse seduzir. Em outro ponto da cidade, na Avenida Guararapes para ser mais exato, um senhor de meia idade se agita ao ver se aproximar seu ônibus. P.S.: a expressão ‘seu ônibus’ foi empregada propositalmente. Afinal, o uso do pronome possessivo é marca registrada de quem freqüenta as paradas lotadas de todos os dias. “Até amanhã, fulano. Lá vem meu ônibus”, “O seu vem logo aí atrás”. E o senhor corre em direção à estreita porta de acesso à entrada do velho busão. Creio que o governo deveria criar projetos de inclusão social a partir da realidade de funcionamento dos coletivos do Recife. Você acaba de subir no ônibus, um BARRO-MACAXEIRA da vida, e vai tentando atravessar o estreito corredor. Imediatamente um passageiro sentado surge como voluntário para segurar seus pertences. Ufa! Já é motivo de sobra para um sorriso de agradecimento. Não leva muito tempo para iniciar um dedo de prosa. Em fração de segundos a conversa toma um rumo... típico de compadres ou de vizinhas de dezoito anos de convívio. Aliás, já perceberam como os diálogos nos ônibus iniciam sempre em torno dos mesmos temas? Sol escaldante, trânsito caótico da Conde da Boa Vista ou a lentidão com a qual o motorista conduz o veículo. E dependendo da evolução da conversa outras pessoas vão interagindo no papo, sem o menor pudor. Semana passada um rapaz, sentado lá pelas cadeiras do meio, esbravejava em repúdio ao início do Guia eleitoral na TV. Mal terminou de dizer que ‘nenhum candidato presta’ o homem do lado sorri discretamente, concordando. Em seguida, a mulher da frente se vira e diz que se pudesse ‘não votava em nenhum desses filhos da mãe’. Pronto! Em menos de cinco minutos as dependências do DOIS IRMÃOS- CAXANGÁ transformou-se em mesa-redonda de debate político. Dificilmente cena como esta seria possível no elevador, na fila do banco ou na sala de espera do consultório médico. Andar nos coletivos tem um quê de inusitado, de fetichismo. É um momento único, sempre. Enfim, sem maiores divagações. Eu desço na próxima.

sábado, 26 de julho de 2008

DIAS DE CHUVA

Inverno: férias de julho, reunião com amigos, beijos apaixonados e sessão de filmes. Dificilmente dá para sair do clichê em busca de inovações pirotécnicas quando o assunto é pensar em opções sugestivas para a estação mais fria do ano. Saídas sem destino, esticadinhas na noite e programas distantes de casa não combinam com chuva.
Quem se aventura em querer sair do ‘script’ esbarra com possibilidades desagradáveis para um dia chuvoso. E não são poucas. Tênis encharcado, guarda-chuva arrebentado pela força do vento, banho de lama proporcionado pelo carro em alta velocidade, atraso no compromisso importante... enfim. Os dias de chuva podem ser definidos como dias de caos.
Estava lembrando recentemente de cenas de filmes e novelas onde a liberdade e o prazer eram materializados sob o cenário de uma chuva torrencial. Personagens livres, maravilhados, libidinosos contemplavam a vida, o mundo, o ato de existir (debaixo d'água). Quem não lembra do clássico dos anos 50 “Cantando na chuva”?! Don Lockwood, interpretado por Gene Kelly, esbanjava felicidade e alegria debaixo de uma chuva interminável, sem a menor preocupação com a existência do Benegrip ou do Vick Pirena no dia seguinte.
Seja em Hilda Furacão, Gabriela ou Tieta os personagens ora sozinhos, ora indo ao encontro do ser amado, vivenciavam passagens intensas de entrega e de permissividade numa paisagem pluvial que deixariam qualquer Adão e Eva se mordendo de inveja.
Fico imaginando como seria protagonizar uma situação dessas sob o cenário da Avenida Recife, Domingos Ferreira ou Abdias de Carvalho completamente alagadas. De um lado motoristas histéricos, pedestres procurando abrigo, do outro os ônibus realizando as manobras (dignas de uma performance do SE VIRA NOS 30) para desviar dos buracos das ruas.
Ou ainda, como seria pensar uma cena entre dois namorados que se reencontram em pleno temporal na parada 05 da Avenida Caxangá? Certamente, nosso lado mais romântico e sensível à melancolia da chuva, construiria um acontecimento tirado das melhores composições musicais que tratam do tema em questão. E as opções são várias. Chuva de Prata, Chove Chuva, Vai chover, Ai ai ai e Quando a chuva passar - ótimos exemplos para aguçar nosso fetichismo perante a combinação de um momento chuvoso e uma possibilidade no ar. Certamente será a melhor escolha! Se resolver pensar no que acontece, de fato, no nosso mundo real você irá esbarrar com gripe, indisposição, lama, cansaço e tantos outros percalços. Provavelmente desistirá no meio do caminho (antes mesmo de começar a se molhar). Aproveite a previsão do tempo- uma massa de ar polar associada a uma frente fria vai derrubar as temperaturas. Chuvas em todo o Brasil. E aí, algum programa para fazermos hoje à noite?

quinta-feira, 26 de junho de 2008

REENCONTROS INESPERADOS

Várias situações do dia-a-dia nos causam surpresa. Umas boas, outras ruins, outras ... digamos, embaraçosas. No topo da lista merece destaque como cena digna de "troféu mico do ano" um reencontro inesperado com um ex-affair'. Eis a cena: aquela pessoa a qual você conferiu o status "offline" na sua vida esbarra com você numa tarde de sábado em pleno shopping lotado. Depois dos 30 segundos de formalidades e perguntinhas clichês "oi", "tudo bem?", "tudo, e você"?, "bem, obrigado" poucas pessoas se atrevem a arriscar qualquer performance que saia do script para esse tipo de situação. Quando não existe mais interesse pela pessoa dificilmente vai valer a pena inovar e arriscar um papo de "amigo". Tudo pode funcionar exatamente ao contrário do que você quis dizer. Para quem prefere emendar a conversa para falar de projetos de vida, blá blá blá ... corre o risco de ser visto como frio e distante, se for falar da ótima fase conjugal do momento vai parecer que está querendo "sair por cima", se for falar de frustrações do relacionamento mais recente pode parecer discurso de quem quer viver um “vale a pena ver de novo”. Por outro lado, quando ainda existe algum tipo de dependência afetiva fica mais difícil não ser percebido. São nessas horas que o estilo "durão" se desmorona como um castelo de areia. Mais complexo que um reencontro dessa ordem é o reencontro consigo mesmo, com os sentimentos mais adormecidos, com os medos e os conflitos internos vindos à tona (somados à expectativa de prever o que estará se passando na cabeça do outro). Tomar qualquer iniciativa pode ser um bom começo para estabelecer o rumo da situação. Da promessa de telefonema a um encontro em breve tudo pode aumentar as expectativas (suas, da pessoa ou de ambos). É o tipo de situação onde temos pouco tempo para tomar qualquer decisão, sem direito a pensar duas vezes. Ah, e onde tudo o que se diz ou o que se fala pode ser duplamente arriscado e comprometedor. Prova disso é tudo o que pensamos depois que nos despedimos da criatura em questão. É um tal de “ah, eu poderia ter tido isso”, “não devia ter comentado...”, “faltou perguntar isso”, etc. É num momento como esses que o mais indicado é arriscar um convite calórico à base de hambúrguer, batata-frita, chocolate e refrigerante. O mais angustiante é conseguir entender se ainda há interesse da sua e da parte da pessoa. Quando não há por nenhum dos lados é mais fácil seguir o caminho, quando um dos lados quer algo e o outro não, é deprimente. Enfim, nesse furacão de possibilidades o melhor mesmo é ousar e fazer um convite para um cineminha na mesma hora, “na lata”. No pior das hipóteses... você assistirá a um bom filme. O resto é por conta da interatividade. Boa sessão!

terça-feira, 20 de maio de 2008

CRÉU EM NÓS

Foram-se os tempos em que para fazer sucesso na música brasileira bastava combinar talento com uma boa dose de oportunidade.
O Brasil, que viu aflorar fenômenos conhecidos mundialmente como Tom Jobim, Maysa, Chico Buarque e Maria Bethânia, também foi palco dos Festivais de Música na tevê, a partir dos anos 60 e de grandes encontros musicais durante a Era de Ouro do rádio.
Há algumas décadas Rita Lee questionava em uma de suas canções "Ai, ai meu Deus, o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?", referindo-se à má qualidade dos produtos musicais fabricados pelas gravadoras. O que dizer então da febre "musical" que impesta as emissoras de rádio e os programas de tevê nos dias de hoje? Basta o ouvinte ou o telespectador mais desavisado tentar sintonizar alguns desses canais e ... "Créu!" Já era. Em meio a uma propaganda e outra "Créu", depois do comercial novamente é "Créu" e "Créu".
De "Boladona" a "Bonde do Tigrão", de "Festa do Apê" a "Dança da minhoca" , essas pragas ensurdecedoras passam devastando, sobretudo, porque confirmam o interesse da mídia e das gravadoras pelos produtos descartáveis, que só servem para vender, garantir audiência e faturamento dos anunciantes. Esses "mantras" impõem-se muito mais pelo fator inusitado, pelo grotesco, pelo ridículo que pela identificação de quem consome com o tal produto. Por serem momentâneos duram o tempo da passagem de um eclipse. Não é à toa que são consumidos com a voracidade de um faminto que esbarra com uma fruta suculenta( permitam-me o trocadilho com a "Mulher Melancia") .
É o que ocorre nas festas "Trashs" (lixo, em inglês), onde a diversão consiste exatamente em debochar da má qualidade dos produtos consumidos nos anos 80, como Gretchen, Sidney Magal, Paquitas e Beto Barbosa. Rimos, na verdade, porque recordamos de tudo que nos foi empurrado como objeto de consumo e também como forma de confirmar nosso distanciamento com a 'coisa' em questão. Ninguém iria associar a lixo as músicas que lembram os bons encontros, os jantares românticos ou as idas ao cinema.

Bem, como febre passa... logo logo inventam a sucessora do Créu. Até lá você tem duas opções:
Conformar-se em saber que temos uma rica herança cultural produzida pelos bons artistas até os dias de hoje ou desesperar-se e descer até o chão na última velocidade do Créu Créu Créu Créu Créu...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

DÚVIDAS MONSTRUOSAS

Para Platão e Aristóteles a capacidade do ser humano de questionar as coisas sempre foi vista de forma positiva. Para os pensadores clássicos, através da dúvida o indivíduo reflete sobre si, sobre o mundo e tudo que o cerca. Que o diga os adolescentes, que em pleno furor hormonal, inquietam-se em dúvidas existenciais sobre sexualidade, vestibular e seus laços de amizade. Mas, se para um adolescente no vigor dos dezessete anos o fim do namoro ou a reprovação no vestibular podem representar o passaporte para o fracasso definitivo, na fase adulta as dúvidas, as perdas e os ganhos tendem a ser encarados de forma relativa. Não que essa nova visão de mundo deva ser traduzida à falta de compromisso e irresponsabilidade perante o mundo. É bem mais uma sensação de deixar-se angustiar por questões mais simples, ou pelo menos não se desesperar tanto por situações inevitáveis da vida. É geralmente depois dos vinte e poucos que constatamos que as respostas para dúvidas maiores dependem muito mais do tempo e da forma como conduzimos nossos caminhos. Por isso costumamos encarar os questionamentos sobre carreira profissional, vínculos de amizade, relacionamento conjugal e outras cositas da vida como possibilidades que dependem mais da razão, da entrega e da cumplicidade diária. Talvez seja por isso que passamos a deixar de lado nossas dúvidas adolescentes por questionamentos mais práticos. Por exemplo, nunca entendi por que as revistas semanais nos consultórios médicos sempre são de 7 meses atrás!? Outra questão que ainda não tive resposta: por que toda semana é aniversário das lojas Insinuante? Mais uma: por que toda cena de novela quando o personagem levanta a mão para pedir a conta no restaurante o garçom aparece em 3 segundos com a bendita conta prontinha? Onde fica esse restaurante na nossa vida real? Outra: por que todo fim ano usamos a mesma mensagem nos cartões de natal? Estas sim merecem destaque na nossa lista permanente das dúvidas monstruosas que desafiam nossa capacidade de resposta. As demais... paciência, não é?! Ah, antes que eu esqueça: por que eu nunca consegui ser atendido pela Central da Oi em menos de vinte minutos de espera?

quinta-feira, 13 de março de 2008

SOBRE PRETA GIL

Volta e meia o noticiário do mundo das celebridades traz alguma saia justa envolvendo os artistas. Seja uma pulada de cerca daqui, um barraco em família dali, uma cruzada de pernas sem a danada da calcinha e ... já era! Um prato cheio para as famintas revistas femininas e para os programas de fofocas. O caso acaba ganhando dimensão em todos os ângulos, versões, possibilidades de interpretação, com até direito a atualizações diárias. Nos últimos tempos a bola da vez parece mesmo ser a cantora-atriz Preta Gil. Quando lançou seu cd "Prêt-à-Porter" em 2003 a filha do ministro chamou mais atenção por ter aparecido nua no encarte do que pelo bom repertório de seu álbum. Vale lembrar que vários artistas já exibiram em capas de discos pelo mundo afora fotos sensuais, exóticas, provocantes, e no final das contas era apenas a embalagem de um produto. Contudo, no país tropical das belas mulatas, Preta acabou se tornando vítima dos deboches e da intolerância da mídia através de exaustivas especulações em forma de enquetes e reportagens especiais sobre o suposto direito de mulheres ditas "imperfeitas", pelos padrões de consumo, poderem exibir seus corpos. Quem não lembra dos repórteres nas ruas perguntando: "o que você achou da Preta Gil ter aparecido nua no encarte do cd?" ... como se coubesse à mídia decidir se a atitude da cantora foi certa ou errada. Mas como tudo parece acontecer no país do samba, Preta acabou cedendo e resolveu aderir às lipos e ao silicone. Depois voltou atrás e novamente assumiu as formas rechonchudas. E como a mídia não perdoa, alguns episódios mais recentes têm comprovado o quanto os meios de comunicação se "comportam" diante de algumas temáticas. Depois de ter sido debochada pela equipe do Pânico na TV após levar um "caldo" numa praia carioca e de ter sido definida como "atriz gorda" no site de busca Google, a cantora resolveu processar este último alegando se sentir ofendida e rotulada. Há dois anos , quando saiu como madrinha de bateria na Mangueira acabou sendo vítima de preconceitos, através das polêmicas criadas pelos próprios jornalistas na cobertura do desfile quando a diferenciavam, de forma sutil, em relação às demais madrinhas. É sempre aquela história :" A Preta vem mostrando a diversidade no sambódromo", "a beleza exótica da Preta na passarela", "apesar de não ter as formas das outras ... ela vem fazendo bonito" e todo aquele velho blá blá blá, que só serve para mascarar o preconceito estigmatizador dos profissionais de comunicação no Brasil no que diz respeito à diversidade. A discriminação contra a Preta, na verdade, é apenas um recorte da exclusão diária que milhões de mulheres consideradas acima do peso vivenciam no Brasil. Além de excluídas pelas revistas de beleza, pelos eventos de moda, a identidade da mulher nacional vai sendo cada vez mais substituída pelas formas criadas nas clínicas de estética americanas e européias, que não retratam a real mulher brasileira. Além disso, tantas outros estigmas como ser negra(e carregar no próprio nome a marca dessa desigualdade), ser nordestina, ser bissexual conferem à Preta a condição de estar constantemente na berlinda de uma mídia que persegue, que rotula, que exclui.
O protesto permanente da Preta contra a postura paleolítica da mídia é o protesto de todos que carregam de alguma forma o estigma de pertencer à diversidade, num país onde os comunicadores não recebem formação nas faculdades para lidar com o plural, com a amplitude do outro, com a ética, com o respeito, e como formadores de opinião só reproduzem os atrasos e as mazelas ideológicas sem a capacidade de questioná-los na prática profissional diária. Que apareçam outras 'Pretas' por aí afora para que possamos lembrar do nosso exercício constante de questionar as imposições e as pré-definições diárias.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

NOVO, DE NOVO

Poucas coisas na vida se assemelham à sensação de um início de romance.
Os sintomas de ansiedade, alegria e bem estar revelados num sorriso indisfarçável parecem ser iguais em qualquer ponto da galáxia onde haja gente em flerte.
E seja lá paquera, namoro, ficada ou relação extraconjugal as doses de adrenalina liberadas fazem qualquer apaixonado se sentir como se existisse dentro do seu corpo um trio elétrico baiano em plena segunda-feira de carnaval, querendo se soltar na avenida.
É nessa fase de descobertas e investidas que “jogamos” o tempo todo quase que inconscientemente, no intuito de fisgar a criatura em questão. Um jogo, digamos, baixo, de táticas de sedução para impressionar e passarmos o “melhor” de nós. Quem não lembra das mensagens de texto que chegavam no celular de 5 em 5 minutos na primeira semana de contato? E o que dizer dos encontros nos melhores restaurantes, das caras e bocas, dos telefonemas demorados e dos mimos em forma de bombons, chaveirinhos e cartões? E sempre com a mesma motivação: “-Ah, pensei em você e resolvi te trazer isto”.
Por esta razão é tão difícil decifrar com quem estamos lidando. É tudo tão tendencioso! Tudo parece ter saído dos melhores contos de fadas, que deixariam qualquer Alice ou qualquer Cinderela se mordendo de inveja.
Não é à toa que as pessoas quando acabam o romance acreditam que não conheciam “o outro”. Quando o “the end” acontece de forma tumultuada então... nem se fala. Só se escuta uma tal de decepção de um lado, revolta de outro. Você começa a crer que o desafeto elaborou um engenhoso plano de conspiração para enganar você. Todo referencial passa a ser as primeiras cenas do romance, quando você ainda recebia mensagens no celular à meia-noite com os dizeres do tipo “um anjinho passou para desejar boa-noite”, “que as estrelas olhem para mais uma: você” ou “ o que sinto é do tamanho do oceano”. Torna-se quase inevitável comparar o "defunto" de hoje com o "môzinho" do passado. Isso já é o suficiente para se divulgar aos amigos e amigas por que a criatura "não vale nada". Outro dia uma atriz global exibia suas tatuagens pelo corpo em homenagem ao homem de sua vida, que ela conheceu dois meses antes. Semanas depois tentava apagar de seu corpitcho o nome do dito-cujo, sob a alegação de ter sido precipitada pelo furor do momento de quando ainda estavam juntos.
Mas voltando à questão inicial, o poder indiscutível do começo de romance, é impressionante como nos revelamos através de uma paixão arrebatadora. A cara de quem viu o passarinho verde é notória por todos que nos cercam. Dia desses uma senhora da boa idade dava entrevista num suplemento dominical de um jornal sobre o namorado que ela conheceu num clube de dança de salão. A viúva enxutona exibia o novo love com um ar de animadora de excursão infantil como se fosse seu primeiro namorico, e defendia a paixão daquele momento como fórmula da jovialidade. Para sacudir ainda mais a vovozona finalizava a entrevista ressaltando a importância de os casais se separarem quando parecer que a relação já foi para Plutão(o planeta perdido) e se jogarem de cabeça num novo amor. De forma geral, quando nos permitimos desfrutar do sabor do começo de relacionamento sonhamos, lá no fundo, em encontrar alguém que nos complete numa relação estável e duradoura. Mesmo porque ninguém quer sentir toda essa avalanche de sensações maravilhosas de início de romance para esperar que seja passageiro. Mas até lá vale a pena degustar esse sabor incomparável.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

CONFLITOS DE VERÃO

Janeiro... mês de viagem, início de dieta, reorganização do projeto que ficou inacabado no ano anterior e tantas outras promessas e metas feitas nos últimos segundos para a virada do ano. No mês em que as praias estão lotadas é comum encontrar com amigos que não víamos há séculos, pessoas que em algum momento passaram pela nossa vida e pareciam ter ido parar no esconderijo de Osama Bin Laden. Creio que são os melhores reencontros. Tem sempre alguma novidade, algum fato novo que aconteceu durante esse tempo em que a pessoa sumida hibernava socialmente. Depois de um turbilhão de informações e fofocas é inevitável a pergunta-clichê : “e o coração?” Nossa! Nem é preciso ouvir a resposta para conseguir deduzir que a cara mais lembra a “derrota do Brasil na Copa de 2006”. Se fosse fazer o levantamento do número de namoros “sólidos” que chegam às cinzas no mês janeiro seria necessário pedir ajuda ao IBGE. No repertório de razões e motivos mais usados pelos amigos e amigas para curtir a vida de solteiro no começo do ano uma tem lugar de destaque no carro abre-alas: o carnaval, é óbvio. Se por um lado às vésperas do dia 12 de junho é notório ver pessoas se lamentando pelos cantos em busca de uma cara metade para poder trocar beijos, declarações, bombons e perfumes do boticário em promoção, o primeiro mês do ano serve de momento de brigas e desentendimentos que justifiquem o término de um relacionamento para, conseqüentemente, deixar a pista liberada para as extravagâncias do carnaval. Tenho um conhecido que criou até estratégia para acabar o namoro de forma apoteótica: programou ficar ausente e indisposto para saídas românticas para dar motivo de o namoro esfriar. Não é que esquentou?! O filho da mãe agora está suando para elaborar um ‘plano B’ para conseguir mandar a pessoa para o “paredão” da forma mais discreta possível. Aliás, não é todo mundo que aceitaria ouvir da boca do “futuro-ex” que é melhor acabar o namoro para que uma das partes envolvidas possa curtir o carnaval com toda libertinagem que a ele/ela possa ser conferida. Há que prefira, por precaução, deixar a pessoa do ‘namoro sólido’ em stand by para uma possível renegociação pós-carnavalesca. Até porque não é todo mundo que esperaria encontrar o grande amor da vida na terceira boca beijada do dia numa segunda-feira de carnaval nas ladeiras de Olinda. Há até alguns casos em que a relação permite com que ambos(as) entrem em comum acordo e acabem a relação com a mesma estratégia mercadológica de uma multinacional que encerra suas atividades temporariamente para balanço e depois volta ampliada e mais cheia de recursos para servir à clientela. Por mais que sejam complexas, traumáticas, relativas, simples e subjetivas as formas como os términos de namoros são negociados e renegociados servem mesmo para revelar que o foco de tensão está bem longe de nós. Digamos, na Faixa de Gaza.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

FIM DE CASO- "EX" A QUESTÃO

Que atire a primeira pedra quem nunca se pegou num final de tarde de domingo pensando naquele “affair” que deixou seu coração em frangalhos. Seja lá pela dor da ausência, pela nostalgia dos momentos agradáveis ou por quais outros motivos forem a lembrança geralmente nos inquieta, nos deixa emotivos, melancólicos, pensativos. Incômodo mesmo é quando somos tomados por uma série quase interminável de hipóteses: como seria se fulano(a), como seria se eu tivesse feito isso ou aquilo, etc e tal. Essa tortura hitleana só serve mesmo para nos deixar mal, culpados e crentes de que não fomos capazes de conduzir uma relação com sucesso.
São nos momentos de carência que pensamos que a lembrança do/da EX parece servir para EXplorar, EXterminar, EXplodir nossa capacidade de transmitir auto-confiança novamente. Até conseguirmos alçar a antiga pessoa à condição de: o defunto, a falecida, o outro, a coisa, o desafeto, passamos por um grau de debilidade emocional e dependência muito grande. Talvez seja por isso que as pessoas resolvem fazer mudanças tão bruscas, como mudar a cor do cabelo, emagrecer, entrar na academia, mudar qualquer outro aspecto no visual ou simplesmente agarrar “O” primeiro cueca ou “A” primeira calcinha que aparecer na frente. Por isso é de desconfiar quando alguém que acaba seu “affair” na quinta-feira aparece na balada no dia seguinte cantando no último volume das cordas vocais: “TÔ NEM AÍ”. Há quem prefira, simplesmente, aproveitar o momento pós-fim de relacionamento para adotar um novo lema de vida : “mulher é igual biscoito(...)”, “tá faltando homem no mercado”, “eu nasci para curtir a solteirice”, etc.
Para algumas pessoas o fim de namoro pode ser o início de uma amizade. E muitas vezes é. O que inquieta é imaginar ser amigo de alguém quando há pendência afetiva (e quase sempre há). É mais fácil conciliar tal amizade quando o “casinho” não significou muito para ambos. Conheço pessoas que se tornaram amigas (mais íntimas que absorvente) depois de uma noite de amor. Outras que se tornaram confidentes depois da separação de 15 anos casados. Aí vêm as perguntas: Como é esse nível de amizade? É imparcial ou tendencioso? É formal ou intenso? Depois de pensar em tudo isso comecei a olhar de forma menos punitiva a frase dita pelo ator Murilo Benício sobre “EXs”: “Só os hipócritas conseguem se tornar amigos dos EXs”. Creio que o que ele quis dizer é que existe um grau de pendência de uma (ou de ambas) as partes.
“Amores” marcam não pelo tempo de duração, mas pela afinidade, pelo grau de intensidade, pela capacidade que o outro tem de revirar a nossa vida. Casos, namoros, casamentos, rolos, ficadas e todas os outros níveis de acasalamento humano deixam marcas para alguém da relação ou para ambos quando o outro ainda parece ter um eco de você. É como se algo ainda tivesse ficado no ar, como um furacão que passa, avassala, arrebenta tudo sem pedir licença para começar nem terminar.