domingo, 10 de fevereiro de 2008

NOVO, DE NOVO

Poucas coisas na vida se assemelham à sensação de um início de romance.
Os sintomas de ansiedade, alegria e bem estar revelados num sorriso indisfarçável parecem ser iguais em qualquer ponto da galáxia onde haja gente em flerte.
E seja lá paquera, namoro, ficada ou relação extraconjugal as doses de adrenalina liberadas fazem qualquer apaixonado se sentir como se existisse dentro do seu corpo um trio elétrico baiano em plena segunda-feira de carnaval, querendo se soltar na avenida.
É nessa fase de descobertas e investidas que “jogamos” o tempo todo quase que inconscientemente, no intuito de fisgar a criatura em questão. Um jogo, digamos, baixo, de táticas de sedução para impressionar e passarmos o “melhor” de nós. Quem não lembra das mensagens de texto que chegavam no celular de 5 em 5 minutos na primeira semana de contato? E o que dizer dos encontros nos melhores restaurantes, das caras e bocas, dos telefonemas demorados e dos mimos em forma de bombons, chaveirinhos e cartões? E sempre com a mesma motivação: “-Ah, pensei em você e resolvi te trazer isto”.
Por esta razão é tão difícil decifrar com quem estamos lidando. É tudo tão tendencioso! Tudo parece ter saído dos melhores contos de fadas, que deixariam qualquer Alice ou qualquer Cinderela se mordendo de inveja.
Não é à toa que as pessoas quando acabam o romance acreditam que não conheciam “o outro”. Quando o “the end” acontece de forma tumultuada então... nem se fala. Só se escuta uma tal de decepção de um lado, revolta de outro. Você começa a crer que o desafeto elaborou um engenhoso plano de conspiração para enganar você. Todo referencial passa a ser as primeiras cenas do romance, quando você ainda recebia mensagens no celular à meia-noite com os dizeres do tipo “um anjinho passou para desejar boa-noite”, “que as estrelas olhem para mais uma: você” ou “ o que sinto é do tamanho do oceano”. Torna-se quase inevitável comparar o "defunto" de hoje com o "môzinho" do passado. Isso já é o suficiente para se divulgar aos amigos e amigas por que a criatura "não vale nada". Outro dia uma atriz global exibia suas tatuagens pelo corpo em homenagem ao homem de sua vida, que ela conheceu dois meses antes. Semanas depois tentava apagar de seu corpitcho o nome do dito-cujo, sob a alegação de ter sido precipitada pelo furor do momento de quando ainda estavam juntos.
Mas voltando à questão inicial, o poder indiscutível do começo de romance, é impressionante como nos revelamos através de uma paixão arrebatadora. A cara de quem viu o passarinho verde é notória por todos que nos cercam. Dia desses uma senhora da boa idade dava entrevista num suplemento dominical de um jornal sobre o namorado que ela conheceu num clube de dança de salão. A viúva enxutona exibia o novo love com um ar de animadora de excursão infantil como se fosse seu primeiro namorico, e defendia a paixão daquele momento como fórmula da jovialidade. Para sacudir ainda mais a vovozona finalizava a entrevista ressaltando a importância de os casais se separarem quando parecer que a relação já foi para Plutão(o planeta perdido) e se jogarem de cabeça num novo amor. De forma geral, quando nos permitimos desfrutar do sabor do começo de relacionamento sonhamos, lá no fundo, em encontrar alguém que nos complete numa relação estável e duradoura. Mesmo porque ninguém quer sentir toda essa avalanche de sensações maravilhosas de início de romance para esperar que seja passageiro. Mas até lá vale a pena degustar esse sabor incomparável.