domingo, 25 de novembro de 2007
ENTÃO É NATAL ...
Antes mesmo de chegar o mês de dezembro as cidades já se enfeitam com motivos natalinos. As lojas tentam enfiar todos os eletrodomésticos, roupas e comidas para a casa do consumidor, tudo sob o mesmo slogan: “você não pode passar o NATAL sem COMPRAR...”
As compras de fim de ano adquiriram um tom de libertação, de pureza, de mudança, de desligamento com o ano que se acaba. E é nessa concepção que o comércio aproveita para empurrar todas as bugingangas ao cliente como se fossem prioridades básicas para se chegar ao estado de nirvana. Ah, tudo embalado ao som comovente da cantora Simone: ‘Então é Natal” .
Lembro quando a professora do primário nos dizia que o NATAL era a época de reflexão sobre o que fizemos de bom e de ruim durante o ano, essas coisas. Sempre achei meio deprimente e quase angustiante o ‘ar’ de confissão que se instaurava entre o indivíduo e sua consciência nessa época do ano. Todo mundo parecia mais compreensivo, mais solidário, mais tolerante. Talvez fosse o medo dessa passagem do ano para uma etapa ‘desconhecida’ que se descortinava. No final de tudo sempre achávamos ter feito algo errado durante o ano e que era necessário nos redimir como o mundo.
Mas agora, caro cliente ... seus problemas acabaram!!
Vá até o centro de compras mais próximo e liberte-se dessa culpa apavorante que o natal causa. Compre, mas compre com vontade! Gaste tudo que tiver (e até o que não tiver). O que importa é que no término você perceberá que ocupou seu tempo com assuntos importantíssimos como a promoção da loja ao lado ou os descontos relâmpagos das Casas Bahia. Quanto às reflexões sobre seus erros... próximo ano você pensa nisso! Boas compras!
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
"Coisas de mulher"
Em uma dessas manhãs agitadas no centro do Recife, onde as ruas estão cada vez mais tomadas pelos vendedores de cd’s, não consegui deixar de prestar atenção em pelo menos duas músicas que urravam daquelas barracas dos ambulantes. A primeira versava sobre uma explosão em um ‘cabaré ‘ na qual voaram mulheres para todos os lados. Em seguida uma outra se limitava a gemidos e gritinhos sexuais de uma mulher que no máximo o que conseguia dizer era “ai, ai, ai tá gostoso”.
É inegável que estas músicas revelam características da cultura local, como afirmação da virilidade, patriarcalismo, banalização do sexo, vulgarização da mulher, dentre outros. Ainda, é pertinente atentar que “linguagem é ideologia”, segundo o lingüista José Luiz Fiorin, e que as manifestações da língua falada ou escrita servem para difundir idéias, valores e conceitos na sociedade.
No que diz respeito à descrição da mulher em muitas dessas músicas de ‘forró’ e ‘brega’, seria menos preocupante se o Estado de Pernambuco não registrasse índices de violência tão alarmantes contra o público feminino. De acordo com o escritor Aureliano Biacarelli, em seu livro Assassinato de Mulheres em Pernambuco, nosso Estado amarga o ranking de 3° lugar onde mais se mata mulheres no Brasil.
E o que tudo isso tem a ver com as canções do início do texto? Por acaso quem comprar um cd desse gênero vai sair matando por aí? Não. A violência em questão não é fruto de um processo instantâneo. Mas é preciso lembrar que também não contribuem em absolutamente nada para acabar com a violência e promover o respeito e a igualdade entre os sexos.
Por mais que existam ações das ONG’s locais, grupo de apoio às mulheres e até mesmo a legitimidade da Lei Maria da Penha, é preciso que haja mudança de postura em vários aspectos. Se permitimos que os programas de tevê, os grupos musicais, a escola, a comunidade promovam a degradação da mulher , seja lá em que sentido for, e não fizermos nada para mudar não deveremos nos espantar com : discriminação contra a mulher no ambiente de trabalho, nos campos de futebol, na política, na ciência e, principalmente dentro de casa.
É inegável que estas músicas revelam características da cultura local, como afirmação da virilidade, patriarcalismo, banalização do sexo, vulgarização da mulher, dentre outros. Ainda, é pertinente atentar que “linguagem é ideologia”, segundo o lingüista José Luiz Fiorin, e que as manifestações da língua falada ou escrita servem para difundir idéias, valores e conceitos na sociedade.
No que diz respeito à descrição da mulher em muitas dessas músicas de ‘forró’ e ‘brega’, seria menos preocupante se o Estado de Pernambuco não registrasse índices de violência tão alarmantes contra o público feminino. De acordo com o escritor Aureliano Biacarelli, em seu livro Assassinato de Mulheres em Pernambuco, nosso Estado amarga o ranking de 3° lugar onde mais se mata mulheres no Brasil.
E o que tudo isso tem a ver com as canções do início do texto? Por acaso quem comprar um cd desse gênero vai sair matando por aí? Não. A violência em questão não é fruto de um processo instantâneo. Mas é preciso lembrar que também não contribuem em absolutamente nada para acabar com a violência e promover o respeito e a igualdade entre os sexos.
Por mais que existam ações das ONG’s locais, grupo de apoio às mulheres e até mesmo a legitimidade da Lei Maria da Penha, é preciso que haja mudança de postura em vários aspectos. Se permitimos que os programas de tevê, os grupos musicais, a escola, a comunidade promovam a degradação da mulher , seja lá em que sentido for, e não fizermos nada para mudar não deveremos nos espantar com : discriminação contra a mulher no ambiente de trabalho, nos campos de futebol, na política, na ciência e, principalmente dentro de casa.
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