Não é de hoje que a beleza é pauta de discussão em várias sociedades. Desde a Grécia Antiga o culto às formas físicas sempre apareceu como característica do ser humano de estetizar as coisas a sua volta. Escultura, pintura, música, teatro e tantas outras manifestações artísticas desenvolveram-se sob o prisma do "embelezamento".
Vale lembrar que o conceito de beleza passou por vários graus de modificação no curso da história. Por exemplo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci atendia à idéia de beleza feminina da época: formas rechonchudas, muitos trajes, preenchimento de espaço.
Não muito longe, lembramos do saudoso Vinicius que já apregoava: "As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Dia desses, o excêntrico Clodovil em mais uma de suas confusões atacava a deputada petista Cida Diogo a partir do argumento que a parlamentar é "feia". O que dizer então desse padrão de beleza imposto aos meros mortais na sociedade contemporânea?
Nos dias de hoje esse 'belo' se aproxima mais da capacidade de mutação dos homens e mulheres diante de imposições de mercado. Não se destaca a capacidade do indivíduo de externar sua beleza, reconhecer-se enquanto belo e sim, alterar-se constantemente em busca de uma beleza inalcançável.
As pessoas estão cada vez mais escravizadas pelos padrões de beleza e de consumo, que instituem rédeas de adestramento nos hábitos e na aquisição pelos meros mortais. Os inibidores de apetite, os anabolizantes, a implantação de silicone e de botox tornaram-se verdadeiros passaportes para a felicidade.
Em vez de as pessoas estarem satisfeitas com a imagem perante o espelho, esse modelo de beleza atual tem levado as pessoas à depressão, à aflição e a tantos outros conflitos existenciais. Por serem temporários, esses padrões reiventam-se o tempo todo, originando cada vez mais pessoas "feias" para os padrões impostos.
As academias e as clínicas de estética tornaram-se verdadeiros templos de busca desesperada pelo corpo perfeito. Ao invés de um aliado, o temível espelho torna-se o principal vilão que denuncia as imperfeições de um corpo fora de regras do jogo do consumo. O espelho persegue, julga e, como castigo, pune suas cobaias com o ciclo da exaustão da busca do inatingível.